quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pensamento...

A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.
Oscar Wilde

sábado, 20 de setembro de 2008

ESTRANHA CONTEMPORANEIDADE




«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os
carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado
como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

Eça de Queirós, As Farpas,1871

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Fundo do Mar



No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.


Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Pablo Neruda

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve musica,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor,
Ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o negro sobre o branco,
E os pontos sobre os iss em detrimento de um redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho nos olhos,
Sorrisos dos bocejos,
Corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
Não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não respondem quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido defelicidade."

Pablo Neruda

domingo, 20 de abril de 2008

Walt Whitman



"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado, e disse à minha alma: quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos? E minha alma disse: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho."

(Walt Whitman)

quinta-feira, 13 de março de 2008

An old man’s thought of School

An old man’s thought of School;
An old man, gathering youthful memories and blooms, that youth itself cannot.

Now only do I know you!
O fair auroral skies! O morning dew upon the grass!

And these I see—these sparkling eyes,
These stores of mystic meaning—these young lives,
Building, equipping, like a fleet of ships—immortal ships!
Soon to sail out over the measureless seas,
On the Soul’s voyage.

Only a lot of boys and girls?
Only the tiresome spelling, writing, ciphering classes?
Only a Public School?

Ah more—infinitely more;
(As George Fox rais’d his warning cry, “Is it this pile of brick and
mortar—these dead floors, windows, rails—you call the church?
Why this is not the church at all—the Church is living, ever living Souls.”)

And you, America,
Cast you the real reckoning for your present?
The lights and shadows of your future—good or evil?
To girlhood, boyhood look—the Teacher and the School.


(Walt Whitman)

Silêncios Gritantes


"Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza."Edvard Munch (1863-1944)




No silêncio dos olhos


Em que língua se diz, em que nação,


Em que outra humanidade se aprendeu


A palavra que ordene a confusão


Que neste remoinho se teceu?


Que murmúrio de vento, que dourados


Cantos de ave pousada em altos ramos


Dirão, em som, as coisas que, calados,


No silêncio dos olhos confessamos?



José Saramago

Os Poemas Possíveis

Lisboa, Caminho, 1999



segunda-feira, 10 de março de 2008

Lisbon Revisited (1923)




Não: não quero nada. Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-a!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo, sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço.
Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
Ó céu azul – o mesmo da minha infância –,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo…
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Retrato


O meu perfil é duro como o perfil do mundo.
Quem adivinha nele a graça da poesia?
Pedra talhada a pico e sofrimento,
É um muro hostil à volta do pomar.
Lá dentro há frutos, há frescura, há quanto
Faz um poema doce e desejado;
Mas quem passa na rua
Nem sequer sonha que do outro lado
A paisagem da vida continua.


Miguel Torga


(Coimbra, 11 de Março de 1952)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

criação artística


Francis Picabia, Parade Amoureuse, 1917

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Maria Bethânia - Ultimatum

Texto Ultimatum - Alvaro de Campos, 1917.

Bethânia resgata um texto tão actual e declama-o com muito vigor!
É bom ressaltar que não é o "Ultimatum" original, aliás, foi muito modificado!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Parece que está de volta...

The Persistence of Memory, 1931

Salvador Dali



Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação.

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão.

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça...


Sophia de Mello Breyner

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

"Grandes são os Desertos..."

Adaptação para vídeo do poema "Grandes são os desertos..." de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa),produzido em 1990 em S-VHS com verba do 5º Prêmio Estímulo de Vídeo da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo (Brasil).