quinta-feira, 13 de março de 2008

Silêncios Gritantes


"Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza."Edvard Munch (1863-1944)




No silêncio dos olhos


Em que língua se diz, em que nação,


Em que outra humanidade se aprendeu


A palavra que ordene a confusão


Que neste remoinho se teceu?


Que murmúrio de vento, que dourados


Cantos de ave pousada em altos ramos


Dirão, em som, as coisas que, calados,


No silêncio dos olhos confessamos?



José Saramago

Os Poemas Possíveis

Lisboa, Caminho, 1999



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